103. Grande Ponte Senju - 1857


Tamanho (cm): 55x85
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Descrição

A obra “Grande Ponte Senju”, criada pelo mestre ukiyo-e Utagawa Hiroshige em 1857, situa-se num momento crucial da arte japonesa, onde abre caminho para uma representação da paisagem que funde a beleza natural e a vida cotidiana em Edo Japão. Esta xilogravura, parte da série "Cem Vistas de Edo", é uma exploração envolvente da interação entre o ambiente humano e natural, refletindo a apreciação japonesa pela paisagem e sua representação.

Na composição de “Grande Ponte Senju”, Hiroshige utiliza a perspectiva que guia o olhar do observador do primeiro plano para o fundo, criando uma sensação de profundidade que convida à exploração. A ponte, que se estende com curvatura elegante, atua como eixo motriz. À esquerda, vários personagens estão em movimento, carregando consigo o cotidiano do Japão da época. Através desses peões, Hiroshige infunde na obra uma narrativa sutil, quase poética; Embora os personagens sejam em grande parte anônimos, cada um traz dinamismo à cena. As roupas tradicionais que vestem refletem detalhes históricos e costumes da época, iluminando a ligação cultural com o meio ambiente.

O uso da cor na "Grande Ponte Senju" é notável e demonstra o domínio de Hiroshige na técnica de impressão a tinta. Os tons azuis, que evocam o céu claro e a água, dominam a obra, enquanto toques de vermelho e amarelo nas roupas e no ambiente quebram a paleta e acrescentam energia à composição. Os tons de azul que se desvanecem no horizonte geram uma atmosfera de serenidade, contrastando com a atividade e movimento em primeiro plano. Este uso da cor não apela apenas à estética visual, mas também estabelece um diálogo emocional com o espectador, convidando-o a mergulhar na cena.

Um aspecto interessante a considerar sobre este trabalho é o seu lugar no contexto mais amplo do ukiyo-e, um estilo de gravura que floresceu durante o período Edo. Hiroshige, juntamente com seu contemporâneo Hokusai, foi fundamental no desenvolvimento e popularização deste meio. Ambos os artistas partilhavam o interesse em capturar a experiência visual da paisagem japonesa, embora cada um o fizesse com uma abordagem particular. Enquanto Hokusai tende a se concentrar nas formações montanhosas e nos fenômenos naturais, Hiroshige exibe uma compreensão mais íntima e cotidiana da vida. Isto ressoa em “Grande Ponte Senju”, onde o foco em um lugar específico é transformado em uma representação evocativa do paisagismo urbano.

Além disso, "Grande Ponte Senju" captura um momento no tempo, não apenas no sentido artístico, mas também na representação da paisagem em mudança de Tóquio (antiga Edo). Naquela época, estava em curso a modernização e transformação da infraestrutura urbana, o que conferiu a obras como esta um valor documental e também estético. Hiroshige não apenas capta a essência de um espaço físico, mas também oferece uma reflexão sobre a mudança e a memória, tema recorrente em sua obra.

Em suma, a “Grande Ponte Senju” não é apenas uma representação de uma ponte no Japão; É uma obra que simboliza a transição da paisagem japonesa num momento de mudança cultural. Através da sua atenção aos detalhes, do uso especializado da cor e da forma e da inclusão de figuras anónimas que reflectem a vida quotidiana, Utagawa Hiroshige convida os espectadores a apreciar não só a imagem, mas também o seu contexto histórico e cultural. A pintura é, em última análise, uma janela para a vida do século XIX, captada por um dos maiores mestres da arte japonesa.

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