CoBrA. Una rebelión pintada con la mano izquierda
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Uma tarde em Amsterdã, abri uma porta que parecia de oficina escolar. Atrás, um mural rugia com traços grossos, criaturas e letras, como se as cores tivessem decidido falar sem pedir permissão.

Era assinado por um rapaz que ainda não sabia que se tornaria Appel, um dos nomes que incendiariam a pós-guerra europeia. CoBrA — o acrônimo que reúne Copenhague, Bruxelas e Amsterdã — não foi um movimento convencional; foi uma conspiração vital para recuperar a capacidade de brincar quando a Europa ainda cheirava a carvão e cinzas.

Enquanto o mundo da arte debatia como reconstruir sua casa com regras racionais, eles pintaram como quem abre janelas a marteladas. E por isso, hoje, quando a pintura volta a oscilar entre o correto e o calculado, CoBrA se sente estranhamente nova. Muitos chegam a CoBrA pela senda solene das vanguardas. Querem encontrar declarações e manifestos como os da Bauhaus (sim, voltaremos a ela: à sua ordem geométrica, sua pedagogia e seu design do mundo moderno), mas aqui o que há é barro, risada, canções de taberna e um repertório iconográfico que não teme a gatos, pássaros, sóis vermelhos e seres que parecem se inventar enquanto se desenham.

Se a Bauhaus ordenava, CoBrA desordenava; se o International Style polia, eles arranhavam; se a arte da “razão” prometia um futuro limpo, CoBrA lembrava que a vida é uma mistura: manchas, tropeços, borrões felizes. Na história da arte moderna, essa tensão não é um matiz: é o próprio pulso.

A faísca se acendeu em 1948 com uma aliança que hoje soa lendária: Asger Jorn de Copenhague, Constant, Karel Appel e Corneille de Amsterdã, com a retaguarda poética e crítica de Christian Dotremont em Bruxelas, e um coro de vozes que incluía Egill Jacobsen, Carl-Henning Pedersen, Else Alfelt, Pierre Alechinsky (em 1949), Ernest Mancoba, Jacques Doucet e outros incansáveis. A etiqueta “experimental” era chave: mais importante que o resultado era o caminho, o gesto, a surpresa. Desde crianças aprenderam a pintar; como adultos, lembraram como. A crítica os acusou de travessos e de “sujar” os museus, mas, para uma geração exausta, esses monstros e risadas abriam uma porta à alegria.

Os CoBrA trabalhavam em coletivo, compartilhavam paredes e papéis, escreviam sobre as telas uns dos outros, e se atreviam a expor peças que ainda estavam úmidas. A cor não tinha hierarquia. A linha, também não. Um animal podia ser um autorretrato; uma casa, um grito; um sol, um tambor. A matéria — areia, giz, óleo espesso — fazia parte da narrativa. O que importava era voltar a sentir que pintar servia para viver. E esse “servir” — tão simples — é a chave de sua atualidade.

Permita-me contar isso de dentro, como se contam as viagens. No paladar de CoBrA ficam três sabores. O primeiro: a risada com dentes, mistura de humor e ferocidade, que se vê em Jorn quando ele zomba do culto à perfeição. O segundo: o bestiário doméstico de Appel e Corneille, esses seres com asas que parecem sair da porta do forno. O terceiro: a liberdade sem permissão de Constant, que já sonhava com cidades lúdicas. Por baixo, um solo comum: a fascinação pela arte infantil e popular —e, claro, pelas tradições nórdicas, pelo grafismo africano, pelos tatuagens de rua—. Se a isso somarmos uma ética compartilhada ("melhor viver do que ser correto"), temos a receita CoBrA. E, no entanto, CoBrA durou pouco como grupo (1948–1951). Por que ainda pulsa? Porque mais do que um estilo foi uma maneira de estar no mundo. Jorn acabou encontrando na risada uma filosofia; Constant imaginou New Babylon, uma cidade para o jogo; Appel levou o grito a Nova York; Alechinsky desenhou caligrafias ao redor de um centro vulcânico; Corneille ficou para sempre com sua mulher-pássaro e seu sol redondo; Pedersen pintou galáxias como se fossem pátios; Jacobsen transformou as máscaras em alfabetos; Mancoba instalou uma vertical humana, silenciosa e firme, que atravessa décadas. A lista, como o movimento, é aberta. O que segue não é um catálogo nem uma enciclopédia, mas uma caminhada guiada: dez obras para entrar pela porta grande e tocar com os dedos —sim, tocar com os dedos— a energia CoBrA. Quando existir uma ficha de produto em KUADROS para a obra, eu a linko; se não, confie em seu olho e guarde o desejo: em nosso ateliê pintamos réplicas a óleo feitas à mão por encomenda legal de qualquer obra disponível em domínio público ou autorizada. Às vezes um quadro leva décadas para chegar à sua parede; o importante é que encontre o caminho.

Constant, Après nous la liberté (Depois de nós, a liberdade), 1949.

A pós-guerra europeia convertida em anseio pictórico: criaturas híbridas, escadas e janelas como saídas de emergência; vermelhos, brancos e azuis que sugerem uma bandeira, mas se recusam a se alinhar. Constant pintou isso com a urgência de quem acaba de empurrar um portão: liberdade não como consignação, mas como prática. (Coleção Tate Modern.)

Pintada na pós-guerra, esta obra antecipa a ruptura de Constant com a pintura tradicional e sua virada para uma visão utópica do ser humano liberado da ordem burguesa. É importante porque marca o início das ideias que desembocariam no movimento CoBrA e, mais tarde, no projeto New Babylon, onde a arte é concebida como ferramenta de emancipação social e criativa.


Karel Appel, Questioning Children, 1949.

O mural que desencadeou polêmicas: cabeças que são tambores, olhos-botão, bocas-túnel, o gesto grosso das mãos sobre a madeira. A infância aqui não é tema: é método. É pintado como uma pergunta aberta, sem o corset do traço "correto". Appel declarou mais tarde: "Eu pinto como um bárbaro." Bem-vindos.

Esta pintura encarna o espírito radical do movimento CoBrA ao adotar uma estética crua, infantil e aparentemente primitiva como rejeição consciente do academicismo e da razão que havia conduzido à guerra. Foi importante porque afirmou a figura da criança como símbolo de liberdade criativa, espontaneidade e verdade emocional, estabelecendo uma das linguagens mais reconhecíveis e provocadoras da arte europeia de pós-guerra.


Karel Appel, Criança e Besta II, 1951.

Criança e besta fundidos em um mesmo batimento, como se Appel dissesse: o humano e o animal são parentes. O desenho empurra a cor, a cor devora o desenho. CoBrA em estado puro: a linha inventa a anatomia.

Nesta obra, Appel intensifica o imaginário primitivo e expressivo de CoBrA ao fundir a figura infantil com a animal, apagando a fronteira entre instinto e consciência. É importante porque leva ao extremo a ideia da criatividade como força selvagem e libertadora, consolidando uma linguagem pictórica que desafiava as normas culturais e celebra a energia bruta como motor da arte moderna do pós-guerra.


Asger Jorn, Carta para Meu Filho, 1956–57.

Uma carta que não se lê: se escuta. Rostos que emergem da espessura, risadas e caretas, círculos como rodas de feira. Jorn, com seu humor solene, ensina que a pintura pode “dizer” sem vocabulário. Se a abstração lírica respira, este quadro ofega.

Esta obra combina gesto espontâneo e simbolismo íntimo para transformar a pintura em um ato de comunicação emocional mais do que em uma representação formal. É importante porque reflete a maturidade do pensamento de Jorn após CoBrA, defendendo a arte como linguagem livre, pessoal e afetiva, em oposição à racionalização excessiva da arte moderna e da sociedade contemporânea.


Pierre Alechinsky, Central Park, 1965.

Um centro que ruge e, ao redor, vinhetas como notas à margem; caligrafia que não imita o Oriente, mas ouve sua música e a transforma em rio. Alechinsky demonstra que o espírito CoBrA sobrevive na página, na borda, no arabesco que pensa.

Nesta obra, Alechinsky transforma o mapa urbano em um campo de signos, gestos e narrativas gráficas de inspiração caligráfica. É importante porque consolida sua linguagem madura, na qual pintura e desenho se fundem, e porque introduz uma nova maneira de representar a cidade não como espaço racional, mas como organismo vivo, caótico e poético.


Egill Jacobsen, Composição em Vermelho, 1948.

Uma máscara sem teatro: olhos, bicos e sinais que parecem letras de um alfabeto arcaico. Jacobsen não ilustra máscaras: pensa com elas. De repente, a pintura se torna um ritual doméstico.

Esta obra sintetiza o interesse de Jacobsen pelas formas arcaicas e os motivos totêmicos, reduzidos a uma linguagem abstrata dominada pela força expressiva da cor. É importante porque contribui para redefinir a abstração europeia do pós-guerra a partir de uma dimensão simbólica e primitiva, influenciando diretamente a sensibilidade do grupo CoBrA e seu rejeição da abstração puramente racional.


Carl-Henning Pedersen, Figuras Amarelas, 1951.

A Pedersen gostava de olhar para o céu como se fosse um quintal. Suas figuras amarelas são cometas: flutuam, trotando, cantando. Entende-se que o cosmos pode ter escala de cozinha. Assim é a poesia CoBrA: astronômica e caseira.

Esta pintura apresenta um universo fantástico povoado por figuras luminosas e narrativas simbólicas de raiz mítica e infantil. É importante porque exemplifica a vertente mais poética e onírica de CoBrA, afirmando a pintura como espaço de imaginação livre, alheio ao realismo e às convenções formais da arte moderna.


Corneille, A Chegada do Pássaro, 1951.Corneille, A Chegada do Pássaro, 1951

Pássaro que traz notícias e mulher que é paisagem: Corneille inventa uma geografia íntima onde o vermelho e o azul fazem um pacto. O mundo, por um segundo, cabe em uma cozinha com janela e sol.

A obra evoca um mundo primário e simbólico onde o animal aparece como portador de vida, liberdade e transformação. É importante porque reflete a dimensão mais lírica e arquetípica de CoBrA, integrando natureza, instinto e mito em uma linguagem pictórica espontânea que rejeita a lógica racional e celebra a imaginação como força originária da arte.


Ernest Mancoba, Sem Título, 1957.

Uma vertical humana — um “alguém” sem nome — treme no centro da tela. Nem figura nem puro signo: presença. Mancoba traz a CoBrA uma ética da forma que é, também, história: um gesto de dignidade que atravessa a Europa e a África, o ateliê e a cidade.

Esta obra articula uma abstração espiritual e humanista na qual a figura se dissolve em ritmos e tensões orgânicas. É importante porque Mancoba introduz uma dimensão ética e universal dentro do contexto de CoBrA e da abstração europeia, vinculando modernidade, identidade e experiência humana além de fronteiras culturais ou estilísticas.


Eugène Brands, Composição, ca. 1948.

Estrelas, manchas, um animal que poderia ser cometa. Brands levou o mundo infantil para a câmara escura do estúdio e o deixou respirar. Sua lição: a mão que brinca é uma ferramenta do pensamento.

Esta obra reflete a busca precoce de Brands por uma linguagem pictórica espontânea, influenciada pelo desenho infantil e pela imaginação primitiva. É importante porque sinaliza a transição para a estética de CoBrA, onde a composição deixa de ser um exercício formal para se tornar uma expressão direta, intuitiva e vital da experiência humana.

Eu vi essas obras penduradas em salas solenes e vi reproduções tortas em bares de estudantes: em ambos os casos, funcionam. Parte do milagre CoBrA é sua resistência à moldura. Não "pedem permissão" à crítica nem se esgotam na anedota histórica; mantêm a novidade porque são feitas de um lugar que não envelhece: a mistura de impulso e consciência. Talvez por isso, quando alguém volta a elas, descobre pequenas táticas de insubmissão ainda úteis hoje. Como Constant faz para que uma escada seja um manifesto? Como Appel consegue que um olho de botão tome a palavra? De que modo Mancoba planta uma figura no centro sem necessidade de imposição?

Surge a pergunta pedagógica — a mesma que nos persegue em KUADROS quando pensamos em pintura a óleo e réplicas de quadros: o que significa “fidelidade” em obras que nasceram contra a correção? Minha resposta, depois de ver nossos artistas levantarem camadas e camadas de pigmento, é simples: significa respeitar o impulso. Não se trata de copiar a torção do traço, mas de entender por que se torceu. E esse “por que” se ouve nos silêncios: a margem sem pintar, a gota que ficou descendo, o encontro imperfeito entre duas cores que jamais deveriam se misturar… e se misturaram.

Frente ao CoBrA, a Bauhaus — a invocada em tantos estudos de design — propõe outra música. A sua é a partitura da ordem: grade, tipografia, o famoso “menos é mais”. Há beleza ali e há uma ética que admiro, mas convém não confundir os fins: a Bauhaus buscou um mundo funcional; CoBrA, um mundo habitável. Um organiza; o outro desorganiza para abrir espaço. Um imagina a casa perfeita; o outro ensina a voltar a habitá-la. Para um leitor que hoje explora arte e cultura, conhecer ambas as rotas não é opcional: é a educação sentimental do século XX e, atrevo-me a dizer, deste.

Se você coleciona pinturas — ou sonha em começar —, CoBrA oferece uma biblioteca de possibilidades. Uma tela de grande formato com humor feroz? Jorn. Cores grossas e seres de fábula? Appel e Corneille. Caligrafias que respiram ao redor de um centro? Alechinsky. Máscaras e signos que inventam gramáticas? Jacobsen. Galáxias domésticas? Pedersen. Uma figura que se sustenta em sua humanidade com um traço? Mancoba. O eco neerlandês, íntimo e estelar? Brands. E se você quiser uma réplica a óleo feita à mão para sua casa, pergunte-nos; em KUADROS trabalhamos com reproduções de pinturas em qualidade de museu, respeitando o que for possível da licença e da fonte, e preservando acima de tudo essa rara verdade: que um quadro, na parede, pode melhorar uma vida.

CoBrA foi breve, sim, mas sua conversa não terminou. De tempos em tempos, ouço alguém repetir que a pintura morreu; então aparece uma criança com um lápis vermelho, um poeta que desenha logogramas nas margens, um cachorro que olha o sol de Corneille do chão da cozinha, e a pintura começa de novo. Às vezes é preciso estudar; outras, basta atrever-se. CoBrA escolheu o segundo para dar a mão ao primeiro. Esse é seu legado. E sua alegria.

—Do ateliê e dos museus, com a gratidão de quem ainda aprende a desobedecer com um pincel.

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