Opis
A pintura “A estrada que liga Edo (Tóquio) e Quioto” de Utagawa Hiroshige, pintada em 1850, é uma obra emblemática que capta a essência da paisagem japonesa num período de transição cultural e socioeconómica. Hiroshige, um dos mais destacados mestres do ukiyo-e, especializou-se na representação de paisagens, e esta obra não foge à regra, destacando-se na sua série de vistas que exploram as estradas e rotas do Japão.
Nesta obra revela-se uma composição que se espalha horizontalmente, típica de Hiroshige, permitindo ao espectador apreciar a vastidão da paisagem que liga as duas principais cidades do Japão. O caminho sinuoso, que direciona o olhar para o horizonte, torna-se o eixo central que convida à exploração, sugerindo que a viagem é ao mesmo tempo física e emocional. Do fundo da pintura, onde surge a estrada, até às distantes montanhas azuis ao fundo, Hiroshige consegue criar uma sensação de profundidade e perspectiva que prende o espectador na viagem visual.
As cores utilizadas por Hiroshige são emblemáticas do seu estilo: uma paleta de tons vibrantes que inclui verdes profundos, azuis subtis e terracotas quentes. O uso da cor não só define o ambiente, mas também evoca sentimentos de calma e conexão com a natureza. O céu transforma-se numa mistura de azuis e lilases, captando um momento do dia que poderia aludir ao nascer ou ao pôr do sol, momentos em que a luz é mais mágica e nostálgica.
Embora a obra tenha como foco a paisagem, o ser humano aparece discretamente, caminhando pelo caminho. A sua inclusão reforça a ideia do quotidiano e da movimentação constante de pessoas na busca pela ligação entre Edo e Quioto, cidades carregadas de significado cultural e político. As figuras, embora pequenas, humanizam a paisagem e estabelecem um diálogo entre o homem e a natureza, representando a eterna dança entre o progresso e a tradição.
Um aspecto fascinante desta obra é o seu contexto dentro do ukiyo-e, gênero que se popularizou no Japão durante o período Edo e engloba estampas que destacam cenas da vida urbana, flores, pássaros e paisagens icônicas. Hiroshige, juntamente com outros contemporâneos como Katsushika Hokusai, ajudou a evoluir este género para a representação da natureza e das paisagens em grande escala, permitindo que a sua obra se tornasse um símbolo do "kokugaku", ou estudos nacionais.
"A Estrada que Liga Edo e Quioto" não é apenas uma representação visual de uma estrada física, mas também um reflexo da jornada cultural que o Japão enfrenta durante a era Meiji, quando as tradições enfrentam a modernização. A obra convida cada observador a refletir sobre a sua própria jornada e, em última análise, sobre a busca de identidade em meio à mudança. Hiroshige, com o seu impressionante domínio no uso da cor e um profundo conhecimento da paisagem, consegue assim criar uma obra de arte que não é apenas um deleite visual, mas também um testemunho cultural.
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