Descrição
Esta é uma das pinturas mais importantes do norte da Europa. Nela, Rogier combinou de forma requintada o legado gótico de padrões estilizados com um novo sentido de naturalismo. No entanto, ele não se limitou a replicar o mundo ao seu redor, mas manipulou detalhes para criar um intrincado programa de símbolos. Por exemplo, o jardim fechado nesta pintura refere-se à pureza da Virgem, enquanto as figuras esculpidas de Adão e Eva nos braços do trono simbolizam o papel de Cristo e Maria na redenção da humanidade do pecado original. Rogier pode ter modelado as características de São Lucas por conta própria.
O tema é tirado de uma lenda de origem grega do século VI, segundo a qual São Lucas foi o primeiro a desenhar um retrato da Virgem Maria. Os artistas viam Lucas como o patrono de sua arte. Rogier van der Weyden colocou a ação em uma loggia aberta. À esquerda, aos pés de um trono, está sentada a Virgem, alimentando o Menino Jesus. O trono, que insinua seu futuro status como Rainha do Céu, está decorado com figuras escultóricas de Adão e Eva, indicando que Cristo e a Virgem expiarão seu pecado original. Em frente à Virgem, São Lucas ajoelhou-se respeitosamente enquanto tenta capturar sua aparência. O artista consegue transmitir tanto a reverência tremulante de Lucas quanto sua concentração em seu desenho. Atrás de São Lucas, podemos ver apenas um touro e um livro, ambos atributos tradicionais do apóstolo. Duas figuras que contemplam a paisagem das ameias possivelmente representam Joaquim e Ana, os pais da Virgem.
Esta pintura é supostamente a primeira que ele fez nesse escritório. O cenário baseia-se na crença tradicional de que São Lucas havia pintado a Virgem Maria e o Menino Jesus ao vivo, apesar de Lucas ter vivido muito depois de que ela e o bebê Messias já tivessem partido.
Há mais nesta pintura do que se observa à primeira vista. Para começar, pode não ser São Lucas pintando Maria, mas o próprio Weyden. "Lucas", em comparação com as duas figuras à esquerda, está pintado de forma mais detalhada e realista. Espalhados por a pintura há vários símbolos de significado religioso: o trono atrás da Virgem, as figuras humanas no braço do trono mais próximo do espectador e um touro atrás do pintor. O primeiro significa o estado futuro de Maria, o segundo representa seu destino de libertar o homem do pecado original de Adão e Eva, e o terceiro é o símbolo pessoal de São Lucas. Além disso, imagens de raios X revelam que Weyden fez várias revisões logo abaixo do produto acabado, incluindo mudanças de posição nas mãos e na expressão facial.
São Lucas foi um dos Quatro Evangelistas, os homens a quem se atribui a autoria dos Quatro Evangelhos que constituem a maior parte do Novo Testamento. Dos quatro livros, a interpretação de Lucas sobre a vida e o ministério de Jesus é escrita com o maior foco em sua natureza divina e de outro mundo. Tematicamente, sua versão do Evangelho se concentra principalmente no perdão e na misericórdia. Apenas em Lucas aparece a parábola do filho pródigo e a lavagem dos pés da mulher.
Atualmente, são conhecidas em todo o mundo quatro versões da pintura São Lucas desenhando a Virgem. Uma está no State Hermitage, as outras três estão no Museu de Belas Artes de Boston, EUA, na Alte Pinakothek em Munique, Alemanha, e no Groeningemuseum em Bruges, Bélgica. A pintura no Hermitage havia sido dividida em duas partes. A metade direita, que representa São Lucas, foi adquirida em 1850 da coleção do rei Guilherme II dos Países Baixos, que havia se casado com uma filha do czar Paulo I, Anna Pavlovna. A metade esquerda, com a representação da Virgem e do Menino, foi comprada em 1884 do antiquário parisiense Antoine Baer. Procede da coleção da rainha Isabel II da Espanha, que viveu exilada na França.
Esta pintura foi objeto de várias restaurações. Em 1854, Feodor Tabuntsov cunhou a parte que representa São Lucas (adicionando reforços de madeira na parte posterior do painel para evitar a deformação). Depois, em 1867, Alexander Sidorov transferiu essa mesma metade do painel para a tela. Em 1884, após a aquisição da outra metade da pintura, o mesmo restaurador a transferiu do painel para a tela e a reuniu com a primeira parte.
Após a reunião das duas metades da pintura, São Lucas desenhando a Virgem quase recuperou seu aspecto original. Quase - porque faltava a parte superior da composição e tinha duas ampliações de restauração - na parte superior da metade com São Lucas e na parte inferior da metade com a Virgem. É possível imaginar a parte superior perdida de a pintura comparando-a com as outras três versões conhecidas.